ENCRUZILHADAS HISTÓRICAS E CULTURAIS

III
As pedras do meu colar
são história e memória
são fluxos de espírito
de montanhas e riachos
de lagos e cordilheiras
de irmãos e irmãs
nos desertos da cidade
ou no seio da floresta.

Poema “Canção Peregrina”, de Graça Graúna.

Lançamento do livro:

MORTARI, C; WITTMANN, L.T; CASSIANO, T.C.S.A (Organizadoras). Encruzilhadas
históricas e culturais. Florianópolis: Editora Nyota, 2023. 1012p. ISBN: 978-65-00-79225-6.

Um dos aspectos mais inovadores preconizados pelas teorias decoloniais é, precisamente, a constatação de que toda forma de conhecimento é válida: todos os seres humanos, vitimados por sua inefável incompletude, carecem de algo que pode ser aprendido com outras pessoas. Longe da pretensão de se constituir como um aforismo, essa perspectiva, sobretudo se considerarmos o caráter hierarquizado que tem acompanhado a constituição das sociedades formadas a partir de regimes coloniais, representa uma escolha política e democrática, na medida em que lança luz sobre formas de saber diversificados e que muito têm a contribuir com a ciência produzida no âmbito das universidades. Romper com as hierarquias de saber e poder e estabelecer conexões com as múltiplas formas de conhecimento produzidas na sociedade, sem dúvida, constitui um dos motivos principais de uma postura que se pretenda decolonial. Não se trata, portanto, de uma aproximação em direção às comunidades com o intuito de observá-las como um objeto de estudo passivo, um mero repositório de informações a serem lidas e interpretado pelo saber científico. Ao contrário, a postura decolonial reside, precisamente, no reconhecimento, valorização e conhecimento construído em conjunto com as múltiplas formas de saber vigentes na sociedade.
Composto por capítulos firmados pelas pessoas participantes do 2º Encontro Pós-Colonial e Decolonial organizado pelo Laboratório AYA, o livro Encruzilhadas históricas e culturais (2023), como o próprio evento que lhe originou, carrega consigo o pressuposto de que o conhecimento, a ciência, pode ser construída a partir do diálogo. As percepções africanas e indígenas contemporâneas, como fica patente em inúmeros capítulos que compõem este livro, têm oferecido a possibilidade de repensarmos não apenas nossas formas de produzir saber, mas também as hierarquias e relações de poder (por vezes naturalizadas) vigentes em nossas sociedades. Latente na publicação, por sua vez, também foi a tônica de todo o chamado EPD, que foi realizado pela segunda vez.
Após o sucesso do 1º Encontro Internacional Pós-Colonial e Decolonial (1º EPD), intitulado Diálogos Sensíveis: produção e circulação de saberes diversos, nossa equipe (formada por professores, bolsistas de graduação e discentes de pós-graduação) se reuniu motivada para o planejamento da segunda edição. Contando com o apoio do Programa de Extensão da UDESC, a partir da Direção de Extensão da FAED, e com recursos do Edital PAEX nº01/2021, da CAPES, através do PAEP EDITAL n. 06/2022, e da FAPESC, por meio do Edital de Chamada Pública n. 34/2021, o 2º Encontro Internacional Pós-Colonial e Decolonial (2º EPD): Encruzilhadas Históricas e Culturais ocorreu entre os dias 11 e 14 de novembro de 2022, tendo como palco principal a cidade de Florianópolis/SC. O evento foi o resultado de uma construção coletiva e potente na busca da produção, circulação e divulgação científica e cultural pós-colonial e decolonial, enfatizando a contribuição de temáticas africanas, afrodiaspóricas e indígenas.
As trocas possibilitadas pelo evento estiveram centradas sobre o seguinte questionamento: “Quais questões e possibilidades se colocam à produção de conhecimentos politicamente situados na busca pela equidade social e produção de epistemologias plurais?”. Essa temática foi discutida ao longo dos quatro dias de evento, por meio de três Diálogos Contemporâneos e cinco Rodas de Conversa. O 2º EPD teve a honra de ocupar espaços históricos da cidade de Florianópolis/SC (além do próprio âmbito digital) com o conhecimento oriundo do intercâmbio entre pesquisadores pesquisadores(as), docentes e estudantes da rede de ensino, além de pessoas matriculadas em cursos de graduação e pós-graduação. Também houve, em todas as atividades propostas, a participação ativa de movimentos sociais: coletivos negros, africanos, indígenas e diversas atividades levadas a cabo por artivistas.
O livro Encruzilhadas Históricas divulga as comunicações apresentadas durante o evento, e é também é fruto do programa de extensão “Olhares, vozes e memórias: saberes africanos e indígenas”, viabilizado pelo Edital PAEX nº01/2021, que, dentre outras ações, objetiva à publicação de obras decoloniais de acesso livre. O livro é dividido em quatro subseções (Encruzilhadas literárias, Encruzilhadas contemporâneas, Encruzilhadas artísticas e Encruzilhadas didáticas) que abarcam da melhor forma a pluriversidade de temas e de pessoas, autores e autoras, que se dispuseram a participar dessa troca. O lançamento do livro ocorreu no dia primeiro de março de 2024, em uma live transmitida pelo Youtube, que contou com a participação, ao vivo, das professoras organizadoras, autoras e autores dos capítulos que compõem o volume. O e-book Encruzilhadas Históricas já está disponível para download no site da Editora Nyota.
Ao celebrarmos o lançamento deste livro, também antecipamos o chamado à próxima edição do Encontro Internacional Pós-Colonial e Decolonial, prevista para o ano de 2025. O livro que ora publicamos, assim como todos os outros projetos, por sua vez, tornam patente a constatação (tantas vezes contestada pela lógica individualista proposta pelo capitalismo contemporâneo) de que o trabalho coletivo é uma característica essencialmente humana, ancestral, e que em muito pode contribuir para a superação dos desafios do tempo presente e do futuro.

Equipe AYA, 10/03/2024.

ACESSE O LIVRO: ENCRUZILHADAS HISTÓRICAS E CULTURAIS

AYA LABORATÓRIO

Laboratório de Estudos Pós-coloniais e Decoloniais – AYA