AparaDOR por Juliana Crispe

Exposição de Sérgio Adriano H

Curadoria e texto: Juliana Crispe

A exposição AparaDOR, de Sérgio Adriano H, provoca debates urgentes e necessários a serem pensados e dialogados por toda a sociedade. Ao enfrentar o Racismo Estrutural, o artista traz, através de tempos do passado, ações que perfuram o agora, transpondo perguntas retóricas através das obras artísticas produzidas. Seus trabalhos tornam-se ações de um indivíduo que move as instituições e interroga os sistemas.

Sérgio propõe desconstruções e novos significados sobre a história, o tecido social, as segregações e os modos velados como o racismo e as atrocidades do passado sobre a negritude são mecanismos formadores da cultura brasileira, de uma desigualdade social de difícil superação, que carrega uma marca de dívida com os povos negros e indígenas deste país.

Se o Aparador, móvel colonial, traz uma carga simbólica de separação e dos modos de opressão, genocídio, violências e disparidades, a exposição de Sérgio interroga os símbolos e incorpora novas imagens para pensar nas potências possíveis de mecanismos que desejam parar as dores dos corpos racializados, que recebem carimbos, rótulos, antes mesmo de nascerem. Sérgio Adriano H produz futuros carregados de afetos, de desejos, de paz e mudanças, e não deixa de carregar consigo as histórias e o respeito por aqueles que antes dele trouxeram através de lutas as realizações de novos futuros ancestrais. 

O artista apropria-se de livros e outros objetos para contar e construir novas histórias. Produz imagens fotográficas e imagens em movimento onde o ser negro aparece como agente interrogador que ressignifica a história pela noção de pertencimento, provocando em suas obras fissuras entre as fronteiras visíveis e invisíveis do sistema.

Bárbara Carine[1], em seu livro “Como ser um educador antirracista” (2023), nos diz que “a educação é o ato de socializar com as novas gerações os conhecimentos historicamente produzidos”. Em certa medida, o que Sérgio Adriano H faz é socializar através da arte os conhecimentos históricos e nos provocar a olharmos para o mito da democracia racial através dos movimentos da decolonialidade[2], pois não há e nunca houve igualdade entre pessoas negras e não-negras no Brasil. Assim, esta exposição também assume, através da arte, um lugar educacional na contemporaneidade e movimenta a luta antirracista, uma luta que deve ser exercida por todes.


[1] @uma_intelectual_diferentona

[2] Decolonialidade é considerada como caminho para resistir e desconstruir padrões, perspectivas e conceitos trazidos pelos sistemas colonizadores e impostos aos povos subalternizados ao longo dos tempos, sendo também uma crítica direta à modernidade e ao capitalismo.

AYA LABORATÓRIO

Laboratório de Estudos Pós-coloniais e Decoloniais – AYA