Conheci Anis aqui na UDESC, antes de cursar artes visuais, em uma apresentação com a Thuanny em um dos palcos do teatro. Anis nos abordou depois do show e disse que havia adorado o trabalho e estava procurando pessoas como nós para trocas. Eu achei ela bem empolgada naquele momento, mas, de fato, eu não sabia que estava de frente com uma artista maravilhosa e que mais à frente nossos caminhos iriam se cruzar inúmeras outras vezes. Tivemos a oportunidade de tocar juntos no Badesc, onde substituí seu guitarrista, Pedro. Essa colaboração reforçou nossa conexão, e a afinidade cresceu ao longo do tempo.
Posteriormente, nos encontramos uma outra vez nas rodas de samba do Samba da Buia, onde Anis vem se firmando cada vez mais como sambista. Acompanhada de um time de peso, tem feito releituras dos clássicos sambas de Partido Alto. Tive o prazer de discotecar no show Fértil Acústico que aconteceu na Casa Odara e outras vezes com nas rodas, fortalecendo ainda mais nossa conexão e nossos espaços dentro dessa cadeia musical em Florianópolis. Recentemente, Anis lançou o EP “Fértil”, com cinco músicas que relatam suas vivências como mulher preta e indígena. Com direção de Marissol Mwaba e edição pelo Laboratório Fantasma, o EP é bastante expressivo e tem trazido grande visibilidade para essa artista, filha de Oxum, que fala um pouco pra gente sobre a influência ancestral no seu processo:
“Eu acho que a música começa a ser ancestral desde o momento que estamos na barriga. O ritmo dos batimentos cardíacos e da pulsação ali da mãe. A gente começa a ouvir música bem ali. E, antes disso, a gente traz muita coisa das pessoas que criaram a gente…”
Dentro do meu disco eu busquei trazer a ancestralidade através das percussões africanas,
que são percussões Mandén….
Tentei trazer também tudo de mais orgânico através dos tambores, o couro, o chocalho com as sementes. Os sons da natureza… As minhas raízes ancestrais vêm do povo preto e também dos povos indígenas, foram essas duas partes da minha ancestralidade que eu quis trazer no álbum, sempre remetendo a muita floresta, às folhas, vento e água. E isso é algo que eu tento trazer no conceito dos shows. Na verdade, isso nunca foi algo que eu parei pra pensar, sempre foi muito natural eu pensar minha música nesse ambiente completamente orgânico e natural.”
Pergunto para Anis sobre suas ações atuais e perspectivas para o seu trampo:
“… Em relação à circulação específica do espetáculo é através de editais ou de
convites que chegam. Esse ano eu fiz o show na Maratona Cultural que, pra mim, foi muito
importante e significativo. No fim do ano passado lancei o videoclipe com a Camerata de
Florianópolis nessa tentativa de expandir o público e de tentar levar minha música para
outras pessoas ouvirem”.
“Eu tenho me mantido bem atenta aos editais, me inscrevendo e buscando estar em contato com outros artistas para que a gente possa se unir, fortalecer os trabalhos um dos outros. Thuanny, François, Dandara são artistas que eu admiro muito e que eu acho que os trabalhos têm a ver com o meu, então são pessoas que eu busco sempre manter o contato pra que a gente possa se potencializar nesse sentido”.
Essa conversa com Anis de Flor só ajuda a reforçar o que tenho percebido com cada artista que venho conversando, que é a força que a narrativa ancestral tem para o povo preto, indígena e outras minorias nesse contexto contemporâneo e pós-colonial, onde essas reflexões sobre afeto e racialização ajudam a emergir uma perspectiva que por muitas vezes foi marginalizada.

Saul Smith (Licenciatura em Artes Visuais – UDESC/CEART)
Artista Visual e músico, Graduando em Artes Visuais Licenciatura pela UDESC e integrante do AYA – Laboratório de Estudos Pós-coloniais e Decoloniais sendo bolsista do Programa de Extensão Movimentos Decoloniais: Práticas, Diálogos e o Sentipensar, atuando no Circuito de Exposições poéticas da relação. Utiliza linguagens como gravura, pintura e fotografia em sua pesquisa sobre os territórios de afeto através da rememoração de símbolos da infância.
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