Ivan realiza um estudo sobre a presença negra no Estado de Santa Catarina, destacando as movimentações coletivas que buscaram re-existir no protagonismo da cultura, história política e identidade no território catarinense ao longo da história, com a premissa de combater a branquitude do ser e saber. Em sua pesquisa, o autor levanta dados de coletivos, associações, produções e imprensa protagonizados por pessoas negras, além de comprovar em sua análise a tese de que a história do Estado de Santa Catarina perpetuou e arquitetou um processo de invisibilidade da história negra catarinense, visando eliminar a presença de pessoas negras. “[…] a condição de invisibilidade do negro em Santa Catarina é um dos suportes da ideologia do branqueamento” ; (LIMA, 2009, p.41).
Outro ponto interessante da pesquisa do autor é o mapeamento das movimentações políticas negras no estado catarinense, desde Blumenau, Lages, oeste do estado, à região metropolitana de Florianópolis. Os grupos agiam em diferentes espaços e tempos na história de Santa Catarina, no combate à hegemonia branca europeia e por meio de importante atuação nas implementações de leis municipais, em meados dos anos 90. Como exemplo temos a “implementação da lei 3.410/97, do vereador Manoel Sátiro Bittencourt, aprovada em 4 de abril de 1997.” (LIMA, 2009 , p.191). A lei visava a inclusão do conteúdo de história afro-brasileira nas escolas municipais de Criciúma.
O autor ressalta que o Núcleo de Estudos Negro (NEN) apoiou e mobilizou setores da Secretaria de Educação para realizar seminários, com o intuito de capacitar educadores e educadoras da cidade. (NEN; LIMA, 1999; 2009). Outras regiões não ficaram de fora, como Tubarão, onde uma iniciativa parlamentar na área da educação foi implementado com a lei 1.864/94, de autoria do vereador Matusalém dos Santos. Esta lei instituiu a inclusão do conteúdo história afro-brasileira nos currículos das escolas da região, determinando a valorização dos aspectos da cultura negra e a elaboração de materiais didáticos. (NAÇÃO ESCOLA;LIMA, 2002). De acordo com o autor, essa ação também contou com a participação do NEN, no ano de 2001.
A década de 90 foi marcada como uma época organização de mulheres negras, que buscavam trazer para o debate as especificidades de uma luta antirracista: “ […] combater e agir diante de toda e qualquer forma de discriminação. Estudar, orientar e divulgar a cultura afro-brasileira, além de garantir espaços a nível profissional, econômico e social às mulheres negras” (SCHERER-WARREN,1996, p. 69).
A tese do Ivan Costa Lima destaca o movimento da colonialidade ao longo do tempo, abordando o racismo e o sexismo como agentes na formação da história catarinense. Os anos de 1900 a 1980 são dominados pela invisibilidade da ação negra na historiografia catarinense, apesar da existência de fontes que evidenciam as contribuições, produções e ações de pessoas negras ao longo da história. Ademais, Ivan faz o movimento de destacar os protagonismos negros nessas ações, com a educação sendo um fator fundamental para a emancipação e o combate antirracista no saber.

LIMA, Ivan Costa. As pedagogias do movimento negro no Rio de Janeiro e Santa Catarina (1970-2000): implicações teóricas e políticas para a educação brasileira. 2009. 318 f. Tese (Doutorado) – Curso de Pós-Graduação em Educação Brasileira, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2009.

Mirele Vitoria Oliveira Cardoso (Licenciatura em História – UDESC/FAED)
Graduanda de Licenciatura em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Ex-bolsista do projeto Residência Pedagógica (2022-2024). Bolsista do AYA – Laboratório de Estudos Pós-Coloniais e Decoloniais (UDESC/FAED).




