
“Primeiro cê foca no lucro, pra depois focar no fútil/Essa sempre foi a minha primeira regra/Tô calma porque tô tega, não explano, eu sou discreta/Eu tenho planos milionários, eu quem crio e dobro a meta”, o verso da rapper Duquesa nos convida a conhecer e refletir a suas músicas enquanto algo que surge em uma cena dominada por estéticas padronizantes e masculinas. Mas antes de falar sobre Duquesa, sua contribuição para o rap nacional e questões negras, gostaria de apresentar e situar a artista. Jeysa Ribeiro, nascida em Feira de Santana, na Bahia, iniciou sua carreira em 2015, participando da música “Só Guardei pra Mim” do grupo Sincronia Primordial. Seu álbum de estreia, Taurus (2023), expressou a potência da artista com músicas como “Classudona” e “99 Problemas” da qual ela afirma que já nasceu pronta. E o lançamento de Taurus, Vol. 2 (2024) reforça sua versatilidade artística, transitando com fluidez entre gêneros como rap, trap, grime, R&B, house e pop.

É este segundo álbum que convido as leitoras a ouvir, se divertir, refletir e promover afirmações enquanto um ser no mundo que é capaz de conceder autonomia de si. A construção da identidade musical de Duquesa vai além das fronteiras de estilo, apresentando letras carregadas de empoderamento feminino e autoestima, especialmente voltadas para mulheres negras. Este traço é um dos pilares de sua música, que reflete e responde à necessidade de representação e valorização de corpos e vozes historicamente marginalizadas.
A faixa “ELA (intro)”, por exemplo, é acompanhada por um videoclipe que simboliza a superação de ameaças e a busca pela libertação pessoal e artística, reforçando a ideia de que a jornada de Duquesa é, em grande parte, uma narrativa de empoderamento. Essa superação de ameaças na letra, estão ligadas ao racismo e suas violências, nos versos dela: “Ela vem com uma mulher branca/Me olhando feio na loja/Ela vem como a velha Branca/Sempre segurando a bolsa/Ela vem como segurança/Me seguindo em toda a loja/Ela vem como um enquadro/Se vier não tenho escolha”.
A temática do racismo é algo notório no rap nacional desde os anos 1990, o que se renova em Duquesa é a composição dessas denúncias com o empoderamento feminino. Para quem é familiarizado com o gênero musical já pode ouvir em Negra Li, Dina Di, Karol Conka e Flora Matos alguns versos sobre diferentes formas de emancipação feminina, isso torna pertinente às novas letras e videoclipes de mulheres dessa geração do rap que inclui Duquesa. Na música intitulada “Big D!!!!! pt. 2” ela destaca: “Eu tenho algumas fãs formadas querendo ser igual a mim/Disseram que eu estrago elas, mas eu devolvo autoestima/Queriam te assistir chorando, mas vão ter que te ver rica”. Da mesma forma que em “Turma da Duq”, ela canta: “Bota meu nome no fly, sabe que a casa lota/Se sua ex me escutar, cê sabe que ela não volta”. Nesses dois exemplos podemos notar a artista direcionando seus versos a mulheres, suas carreiras, seus relacionamentos e novas formas de emancipação.

Além disso, o sucesso de “Taurus, Vol. 2” é evidenciado não apenas pelos números impressionantes, como os quatro milhões de streams no Spotify em menos de uma semana, mas também pelas colaborações de peso, incluindo artistas renomados como Baco Exu do Blues, Tasha & Tracie, Urias, Jovem Dex, Yunk Vino e Zaila. Essas parcerias fortalecem a imagem de Duquesa como uma artista em ascensão, capaz de transitar e colaborar com diferentes vertentes da música urbana, sem perder sua autenticidade.
Duquesa está conquistando espaço no exterior, sendo indicada ao BET Awards 2024 na categoria “Melhor Novo Artista Internacional”, uma indicação que não só celebra seu talento, mas também aponta para o impacto que sua música tem causado fora do Brasil. Essa visibilidade internacional é um reflexo do alcance de suas narrativas construídas por meio da música, que dialogam com questões de raça, gênero e poder.
Mais do que uma promessa, Duquesa já é uma realidade, e seu impacto está apenas começando a ser experienciado de forma mais ampla. Esse tipo de artista nos impulsiona a esperançar novos olhares não só para o gênero musical mas para a relevância de pautas que envolve mulheres negras, gordas, nordestinas e seus relacionamentos, desejos, autoconfiança e principalmente seu lugar no mundo, que como lembra a artista em mais uma letra do álbum: “Eu sou a coisinha certa no traço que tava torto!”.
ÁLBUM SUGERIDO:
Autoria

Bruna Andrade Benjamim de Souza (Doutoranda – PPGH/UDESC)
Possui Licenciatura em História pela Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR, 2020). Mestra pelo Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC, 2023). Atualmente é Doutoranda pelo Programa de Pós Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e integrante do Núcleo de Educação para Relações Étnico-Raciais da UNESPAR – U.V desde 2018.
REFERÊNCIAS
GRUTTER, F. Duquesa expande universo Taurus em álbum versátil: ‘Potência muito grande’. Disponível em: <https://rollingstone.com.br/musica/duquesa-expande-universo-taurus-em-album-versatil-potencia-muito-grande/>. Acesso em: 23 out. 2024.
GRUTTER, F. Duquesa comprova que é uma das principais rappers da atualidade em primeiro grande show. Disponível em: <https://rollingstone.com.br/musica/duquesa-comprova-que-e-uma-das-principais-rappers-da-atualidade-em-primeiro-grande-show/>. Acesso em: 24 out. 2024b.




