Só vivem os que lutam, viver é um eterno lutar Por Elisa Martins

Antonieta de Barros

Me lembro como se fosse hoje do meu primeiro contato com uma obra de Gugie Cavalcanti. Em seu grafite de Antonieta de Barros, me recordo de ficar fascinada, analisando a obra imponente. Também me lembro da sensação de poder enxergar corpos racializados sendo representados de forma tocante. Na figura de uma das mulheres negras mais importantes para a educação em Santa Catarina, bem como outras personalidades retratadas em uma cidade que faz questão de apagar nossa existência em todos os espaços, de forma incansável.

As obras de Gugie, com sua beleza, buscam, como a artista gosta de citar, “uma poética da publicidade afetiva”.  Partindo da perspectiva e reflexão de outras histórias, de pessoas que sempre estiveram ali, mas que, por conta de inúmeras políticas de higienização da cidade ao longo dos séculos, acabaram por apagar a presença e a importância da história negra em SC.

Enquanto historiadora licencianda da sétima fase, me proponho ao exercício de dialogar sobre a importância da arte de Gugie Cavalcanti. A artista, como ela mesma indica em suas obras, busca evidenciar aquilo que conhece: as pessoas com quem se identifica, os afetos que lhe tocam, trazendo para o grafite uma forma de espalhar pela cidade apresentando rostos negros e grandes personalidades pelas ruas de Florianópolis.

Gugie reivindica. Reivindica o espaço dos seus, que, por conta das políticas de apagamento, fazem questão de ocultar a presença do povo negro, tentam apagar nossas vivências, nossa forma de nos expressarmos e a forma como existimos. Atualmente, Gugie reside no Rio de Janeiro e preside diversas oficinas, sempre engajadas e articuladas aos movimentos sociais, a fim de manter seu trabalho e retribuição à comunidade.

Recentemente, está acontecendo novamente o apagamento da existência desses povos. Ao apagarem o mural de Antonieta de Barros, mostram, mais uma vez, que a politica  embranquecedora ainda se mantem com as formas de repressão e segue na tentiva de censurar. A obra está localizada no Centro de Florianópolis, na esquina das ruas Tenente Silveira e Deodoro, em um lugar nobre no centro da cidade.. A conquista desse espaço de resistência foi resultado de inúmeros movimentos sociais que lutam pela permanência da nossa história. Agora, a obra está prestes a desaparecer, em um descarado desrespeito à importância que a obra traz consigo. Não à toa a disputa por nossos espaços segue sendo travada, e, enquanto houver artistas, educadores e articuladores dos movimentos sociais, as lutas de permanência continuarão até que nossa existência, enquanto população racializada, seja reconhecida e respeitada.

Gugie resiste!

Autoria

Elisa Martins Saes (Licenciatura em História – UDESC/FAED)

Graduanda em Licenciatura em História na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC/FAED). Trabalha como bolsista de extensão no Laboratório de Estudos Pós-Coloniais e Decoloniais AYA.

REFERÊNCIAS

https://gugiecavalcanti.com/acervo/antonieta-de-barros/

AYA LABORATÓRIO

Laboratório de Estudos Pós-coloniais e Decoloniais – AYA