Um não-Manifesto de uma nova mulher velha Sapatão¹

Os anos me ensinaram a dizer que me manifesto, não para denunciar o capitalismo, o racismo, o colonialismo, a branquitude, o patriarcado e neofascismo no mundo. Este manifesto não é para dizer que estamos diante do maior massacre de civis do século XXI.  Não é para dizer que também estamos diante do maior número de fome catastrófica no planeta e nem do colapso climático. Não é para dizer, sobre qualquer crítica que se faça de forma seletiva que não toque nas raízes profundas da opressão. 

Este manifesto não é para dizer, como se fosse novidade, que tudo isso também se alimenta da heteronormatividade como norma. Não é para dizer sobre a heteronormatividade compulsória que nos vigiam por todos os lados, sustentando o patriarcado como regime político e ditando como devemos amar, viver e resistir. Não é para dizer que essa lógica precisa ser confrontada. Não é para neutralizar o sistema que nos cala, apaga e oprime. 

Este manifesto não é para dizer sobre a minha sapatonice. Não é para dizer sobre o silêncio que há entre nós, sapatonas. Nem da ausência de debates estruturais que nos atravessam. Não é para falar do apagamento da nossa identidade. Não é para falar como o sistema capitalista descarta o corpo velho sapatão.

Este manifesto não é para afirmar que minha identidade sapatão é prática política. Não escrevo apenas para me defender, resistir ativamente, me posicionar, enfrentar ou romper. Não escrevo para falar que minha visibilidade não é vaidade: é denuncia, é existência, é resistência. 

Este manifesto não é para dizer que meu feminismo é sapatão, anticapitalista, antirracista, anticapacitista e anticolonial. Porque minha luta não é só minha. É por todas as que vieram antes e que foram apagadas. É por todas que ainda virão. Esse manifesto não é para falar que não aceito ser “marginal” dentro dos próprios espaços de resistência.  

Este manifesto não é para reivindicar um lugar, voz ou história. Mas talvez seja um convite. A romper de fato com a invisibilidade. A desobedecer de fato com às normas. A colocar no centro do debate aquilo que de fato oprime, a Estrutura de Poder Colonial Moderna, que nega a velhice como potência.

Este manifesto busca, na verdade, dar sentido a um espaço onde as ideias envelhecem e as novas realidades, mesmo caladas, exigem ser ouvidas. 

Este manifesto é para escrever a Razão do seu tempo, abrir uma janela para o que ainda virá, um futuro em que a protagonista, ainda em construção, é a mulher velha. Essa nova mulher velha anuncia uma nova era, um novo caminho para outro mundo possível, completo, sem pressão social, mesmo sendo todos os dias bombardeada de etarismo por todos os lados. 

A mulher velha dá voz às perguntas, às preocupações, aos pensamentos de muitas mulheres, especialmente daquelas, como nós sapatão, cuja a existência segue sendo uma negação a lógica heteronormativa.

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer…reconhecendo como nova em sua velhice, buscando outras formas de envelhecer.

Essa nova mulher velha sapatão conhece bem as raízes desse mundo que tem em seu chão, suas ausências, suas faltas. Mas como raiz seus pés firmes se fincam, se expande, fertiliza o horizonte e segue em frente. 

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer… aceitando o tempo, sem o desejo de voltar ao tempo. 

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer…mantendo-se viva na caminhada em direção a si mesma. 

Este manifesto é para escrever a Razão do seu tempo, abrir uma janela para o que ainda virá, um futuro em que a protagonista, ainda em construção, é a mulher velha. Essa nova mulher velha anuncia uma nova era, um novo caminho para outro mundo possível, completo, sem pressão social, mesmo sendo todos os dias bombardeada de etarismo por todos os lados. 

A mulher velha dá voz às perguntas, às preocupações, aos pensamentos de muitas mulheres, especialmente daquelas, como nós sapatão, cuja a existência segue sendo uma negação a lógica heteronormativa.

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer…reconhecendo como nova em sua velhice, buscando outras formas de envelhecer.

Essa nova mulher velha sapatão conhece bem as raízes desse mundo que tem em seu chão, suas ausências, suas faltas. Mas como raiz seus pés firmes se fincam, se expande, fertiliza o horizonte e segue em frente. 

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer… aceitando o tempo, sem o desejo de voltar ao tempo. 

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer…mantendo-se viva na caminhada em direção a si mesma. 

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer…não apagando os vestígios da vida, mas usando como um lugar de onde se pode olhar o mundo com mais profundidade, escutando os chamados ancestrais.

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer… percebendo os espaços de encontro entre jovens e velhas são mais escassos, limitados quase exclusivamente ao âmbito familiar e, com alguma sorte, no feminismo. Percebendo que na distância compromete a escuta, a troca de experiências.

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer…reconhecendo que mulheres mais jovens não hesitam em ocupar as ruas, em reivindicar seus direitos. Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer…reconhecendo que caminhar ao lado delas com leveza, que é importante, para lembrar que nenhuma luta começa do zero, pois há uma história que não pode ser esquecida.

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer…aceitando ser cuidada, acariciada, mimada e respeitada.

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer…ampliando seu erotismo, sua sexualidade, suas experiências, seus desejos e suas opiniões.

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer…utilizando o prazer e a dor como fonte de inspiração.

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer: com lucidez, coragem e encanto, para que, quando a morte chegar, encontre uma vida plenamente vivida.

E por desejar essa plenitude…Este manifesto é para escrever a Razão do seu tempo, abrir uma janela para o que ainda virá, um futuro em que a protagonista, ainda em construção, é a mulher velha. Essa nova mulher velha anuncia uma nova era, um novo caminho para outro mundo possível, completo, sem pressão social, mesmo sendo todos os dias bombardeada de etarismo por todos os lados. 

A mulher velha dá voz às perguntas, às preocupações, aos pensamentos de muitas mulheres, especialmente daquelas, como nós sapatão, cuja a existência segue sendo uma negação a lógica heteronormativa.

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer…reconhecendo como nova em sua velhice, buscando outras formas de envelhecer.

Essa nova mulher velha sapatão conhece bem as raízes desse mundo que tem em seu chão, suas ausências, suas faltas. Mas como raiz seus pés firmes se fincam, se expande, fertiliza o horizonte e segue em frente. 

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer… aceitando o tempo, sem o desejo de voltar ao tempo. 

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer…mantendo-se viva na caminhada em direção a si mesma. 

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer…não apagando os vestígios da vida, mas usando como um lugar de onde se pode olhar o mundo com mais profundidade, escutando os chamados ancestrais.

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer… percebendo os espaços de encontro entre jovens e velhas são mais escassos, limitados quase exclusivamente ao âmbito familiar e, com alguma sorte, no feminismo. Percebendo que na distância compromete a escuta, a troca de experiências.

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer…reconhecendo que mulheres mais jovens não hesitam em ocupar as ruas, em reivindicar seus direitos. Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer…reconhecendo que caminhar ao lado delas com leveza, que é importante, para lembrar que nenhuma luta começa do zero, pois há uma história que não pode ser esquecida.

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer…aceitando ser cuidada, acariciada, mimada e respeitada.

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer…ampliando seu erotismo, sua sexualidade, suas experiências, seus desejos e suas opiniões.

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer…utilizando o prazer e a dor como fonte de inspiração.

Essa nova mulher velha sapatão procura a melhor maneira de envelhecer: com lucidez, coragem e encanto, para que, quando a morte chegar, encontre uma vida plenamente vivida.

E por desejar essa plenitude…

Manifesto à minha consciência, com voz inaudível, que não renuncio ao direito de ser uma velha feia, insubmissa, atravessada pelo absurdo dos meus desejos repugnantes. 

¹Texto publicado. “Um não-Manifesto de uma nova mulher velha Sapatão”. In: REVISTA BREJEIRAS. Gatas/Sapas Extraordinárias 50+. Rio de Janeiro: Revista Brejeiras, n. 6, ago. 2025. p. 14 e 15.

²Segundo à ONU. https://news.un.org/en/story/2024/09/1154001


Jeane Adre Rinque – UFRJ

Sapatão. Mestre em Filosofia pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Educadora Popular no Projeto Educação Comunitária – Integrar/SC. Pesquisadora associada ao Laboratório de Pesquisas Decoloniais e Pós-Coloniais AYA – UDESC/SC.

AYA LABORATÓRIO

Laboratório de Estudos Pós-coloniais e Decoloniais – AYA