Re Moraes por Saul Smith

Apresento hoje, para quem não conhece, Re Moraes. Multiartista Travesti, representante da Frente Catarinense pela Legalização e da Frente Trans Anti Proibicionista. Diretamente da cidade de Pelotas (RS), chegou a Florianópolis ali em meados de 2016 e encontrou espaço nos encontros das batalhas de rima, um lugar bem vibrante na sua essência urbana, e bem  interessante para compreender e pôr em prática a arte. 

Foto: Matheus Trindade
Foto: Matheus Trindade

Dessa vez minha conversa com a Rê foi online (real é que tá bem difícil achar tempo pra encaixar as demandas da vida na agenda!).
Falamos um pouco sobre nossa chegada nesta Ilha, que se diz da magia, e dos territórios urbanos de que vamos apropriando diariamente. Rê Moraes chegou em Florianópolis com 16 anos e reconheceu sua identidade de gênero aqui na ilha. Em nossa conversa, contou como foi o contato com esse local:


“Eu não conhecia arte de forma alguma, sabe? Gostava de algumas músicas, de alguns artistas, mas não me imaginava fazendo, produzindo. Aí comecei a colar nas batalhas… A primeira vez que rimei foi na Batalha das Minas com o incentivo de outras mulheres e outras pessoas trans, até que eu comecei a compor minhas músicas me tornando uma artista…”

É incrível como as batalhas de rima encapsulam uma riqueza cultural e artística que vai muito além das próprias rimas. Particularmente, tenho um apreço profundo por essa expressão genuína da cultura hip hop, pois ela incorpora elementos que considero essenciais para o desenvolvimento artístico. Desde a expressão cultural autêntica até o empoderamento individual, as batalhas de rima são um reflexo vívido das realidades e aspirações das comunidades urbanas. Elas não apenas desafiam os participantes a aprimorarem suas habilidades linguísticas, mas também promovem uma conexão mais profunda entre indivíduos de diferentes origens, fortalecendo laços sociais e políticos, proporcionando um senso de pertencimento.

Foto: Matheus Trindade

A cultura ballroom é outro desses territórios também transitado pela artista, que está à frente, junto com a também artista Dudazone, de umas das diversas casas de Florianópolis. E quando digo “casa” estou me referindo aos grupos sociais formados por pessoas lgbtqiapn+ (comumente lideradas por uma “mãe”) que oferecem um senso de comunidade, apoio e pertencimento para aqueles que, muitas vezes, enfrentam marginalização e discriminação. Esse cenário surgiu no underground lgbtqiapn+ de Nova York, nas décadas de 1960 e 1970, proporcionando um espaço seguro e inclusivo para pessoas que não se viam representadas em outros espaços sociais:

“A Casa das Duras é uma casa de pessoas trans, travestis racializadas, lgbtqiapn+ da cultura ballroom (que é uma cultura que já existe fora do Brasil, por aqui a pouco tempo), ela nasceu em 2022 e eu sou a Fundadora-Mãe da Casa das Duras.
Eu já tinha fundado a batalha das monas e a Casa das Duras já era meio que um coletivo, mas não pensado ou criado para ser da cultura Ballroom. Aí a gente foi numa Ball onde eu ganhei uma categoria e a partir daí, analisando a cultura e o nosso coletivo, acabamos fundando o que é hoje a Casa das Duras.
A gente produz eventos, produz ‘Balls’, a gente passou num projeto agora da Funarte, do Ministério da Cultura.
A Casa Das Duras é um movimento Político.”

Cantora e Rapper, e apesar de todas as adversidades pelo caminho, Rê já se apresentou com grandes nomes como Carol Conka, Baco Exu do Blues e a artista estadunidense Iamddb. Hoje, juntinho desse texto, tem lançamento de clipe novo da Rê.

“Meus planos na músicas agora são lançar um álbum, um EP, muitos audiovisuais (mas ainda não tô tendo condição nem de gravar as músicas)… Tenho muito material já criado, já tenho os beats só preciso gravar mesmo e lançar. Eu me inscrevi num projeto e não passei
No geral, esses são os projetos: produzir músicas, lançar clipes, álbuns…
Mas tá nesse processo demorado por essas questões financeiras, o Brasil é o país que mais mata travesti e o que menos dá oportunidade também.”

Autor

Saul Smith (Bacharelado em Artes Visuais – UDESC/CEART)

Artista Visual e músico, Graduando em Artes Visuais Licenciatura pela UDESC e integrante do AYA – Laboratório de Estudos Pós-coloniais e Decoloniais sendo bolsista do Programa de Extensão Movimentos Decoloniais: Práticas, Diálogos e o Sentipensar, atuando no Circuito de Exposições poéticas da relação. Utiliza linguagens como gravura, pintura e fotografia em sua pesquisa sobre os territórios de afeto através da rememoração de símbolos da infância.

Referências
@remoraesz
@casadasduras
@dudazone
https://www.youtube.com/watch?v=3Pju0xMrMAo

Colaboradores do post
@saulsmith.art
@remoraesz

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Laboratório de Estudos Pós-coloniais e Decoloniais – AYA